Formol no cabelo queima mulheres todos os dias no RJ
Todo dia, ao menos um caso de mulher com queimadura ou queda de cabelo em consequência do uso de alisantes proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é registrado no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel (Rio de Janeiro). O problema também é comum em outras unidades de saúde. As substâncias mais usadas nos produtos são o formol e o glutaraldeído, que podem causar câncer e cegueira.
O dermatologista Mário Chaves, do Serviço de Pesquisa de Dermatologia do Pedro Ernesto explica que o número de vítimas dos alisantes é bem maior que o registrado, porque muitas delas não buscam atendimento ou denunciam os danos. “Não há notificação do número real, que é gigantesco”, alerta ele.
Em média, são atendidas no Pedro Ernesto, por mês, 40 vítimas dos alisantes. E o motivo quase sempre é o mesmo: “Os salões usam produtos industrializados, mas acrescentam essas substâncias sem a cliente saber. Daí o desastre”, diz Mário Chaves.
No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, a média de casos com ferimentos causados por alisantes ilegais é de cinco por semana: “A maior parte dos casos é de cabelos com quebra”, aponta o dermatologista da unidade, professor Celso Tavares Sodré.
O uso prolongado do formol e do glutaraldeído, que são conservantes bactericidas, pode causar doenças graves, como câncer de pulmão e lesão irreversível da córnea. O gás produzido por essas misturas pode ainda causar danos ao sistema respiratório. “Há casos de cegueira quando a substância cai no olho durante a aplicação”, explica Chaves. Ele alega que as mulheres, muitas vezes, são atraídas pelo que consideram uma novidade: “E a novidade pode ser um produto com mistura tóxica”.
PROIBIÇÃO
O subgerente de fiscalização da Vigilância Sanitária Municipal, Paulo Maurício, diz que o formol e o glutaraldeído são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
DOSAGEM
As substâncias são toleradas na seguinte dosagem: formol (0.2%) e glutaraldeído (0.1%). “Assim não há efeitos tóxicos”, diz dermatologista Mário Chaves.
LIMPEZA
Eles são usados para esterilizar, por exemplo, ferramentas cirúrgicas.
Queimadura com ‘escova de botox’
Há uma semana, a secretária Natália Pereira, de 22 anos, passou por um susto quando se preparava para uma festa de casamento. Após seis horas de tratamento para alisar os cabelos num salão de beleza da favela da Rocinha, as queimaduras surgiram.
Natália ficou com o rosto inchado e a cabeça descascando e foi levada a um hospital. Ela disse que foi atraída por uma escova de botox.